JBS suspende entregas para o Carrefour, que nega desabastecimento

Frigoríficos reagem à decisão do Carrefour de não vender mais carne do Mercosul na França.

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Publicado em 24/11/2024 às 12:16h - Atualizado 1 minuto atrás Publicado em 24/11/2024 às 12:16h Atualizado 1 minuto atrás por Marina Barbosa
JBS suspendeu entregas ao Carrefour na 5ª feira (Imagem: Shutterstock)

A decisão do Carrefour (CRFB3) de não vender mais carnes provenientes do Mercosul na França também está afetando as operações da companhia no Brasil, pois frigoríficos como a JBS (JBSS3) decidiram suspender o fornecimento de carnes para a rede.

O Investidor10 apurou que a JBS interrompeu o envio de carnes para as lojas do Carrefour no Brasil já na quinta-feira (21). Isto é, um dia depois de o CEO global da rede, Alexandre Bompard, dizer que iria suspender a compra de carnes do Mercosul para as operações francesas da rede, em solidariedade aos agricultores locais.

A decisão da JBS também afeta as demais marcas do Carrefour no Brasil, Atacadão e Sam's Club. Além disso, teria recebido apoio do restante do setor e até do governo brasileiro. A avaliação dos frigoríficos é de que o abastecimento só deve ser normalizado depois que Alexandre Bompard retratar-se com os produtores brasileiros.

Apesar disso, o Carrefour negou desabastecimento de carnes no país. "A comercialização do produto ocorre normalmente nas lojas. Nenhuma loja está desabastecida", afirmou, em nota.

Entenda a crise entre o Carrefour e o agronegócio brasileiro

O Mercosul e a União Europeia negociam há décadas um acordo comercial que promete facilitar o fluxo de produtos entre as regiões. Agricultores europeus, no entanto, são contra o acordo e protestam há meses contra essa possibilidade.

Os agricultores europeus temem perder espaço para os produtos brasileiros e argentinos diante de uma redução das tarifas comerciais. Além disso, alegam que o agronegócio brasileiro não cumpre padrões de sustentabilidade tão rigorosos quanto os europeus.

🚜 Os protestos se intensificaram nos últimos dias na França, com agricultores bloqueando ruas e jogando estrume nas ruas, diante da tentativa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de avançar com as negociações sobre o acordo durante a Cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Foi neste cenário que o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, decidiu parar de vender carnes do Mercosul na França.

"Em toda a França, ouvimos a confusão e a raiva dos agricultores em relação ao projeto de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul e ao risco de transbordar no mercado francês de uma produção de carne que não respeita suas exigências e padrões", anunciou, em carta enviada ao sindicato agrícola francês e compartilhada nas redes sociais.

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A decisão, no entanto, pegou de surpresa o Carrefour Brasil, que emitiu uma nota dizendo continuaria comprando carne do Mercosul. Segundo o varejista, a medida se aplica "apenas às lojas na França" e "em nenhum momento se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise".

🗣️O agronegócio brasileiro, no entanto, não gostou da decisão e convocou um boicote ao Carrefour. Em nota assinada por entidades como ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o setor diz que, se o Mercosul "não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país".

O ministério da Agricultura e da Pecuária também se posicionou sobre o assunto, dizendo que "não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros".

O ministério lembrou que "o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor" e mantém relações comerciais com cerca de 160 países "atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos".