Caso Americanas: delatores contam o que sabem sobre fraude

Ex-CEO e ex-diretora tiveram mandatos de prisão emitidos pela Justiça

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Publicado em 27/06/2024 às 14:18h - Atualizado 3 meses atrás Publicado em 27/06/2024 às 14:18h Atualizado 3 meses atrás por Wesley Santana
Foto: Divulgação

🗣️ Um dos maiores de casos de fraude da história do mercado de capitais teria começado em 2007, disse Flávia Carneiro, ex-responsável pela Controladoria da Americanas (AMER3). Ela fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal e disse que já havia encontrado inconsistências quando entrou na companhia.

As informações foram obtidas pela Folha de São Paulo, que detalhou o tom das declarações da ex-funcionária à Justiça. Segundo o jornal, as inconsistências eram como um “modus operandi” na direção da empresa.

Flávia teria dito ao MP que, após identificar as fraudes, teria reportado o problema e recebido resposta inconclusivas. O balanço da Americanas foi inflado por rubricas como “risco sacado”, que são aquelas operações em que a empresa obtém um empréstimo para pagar seus fornecedores.

Ainda de acordo com informações do jornal, existiam duas planilhas diferentes de controle, uma que mostrava a situação real da Americanas e outra com os dados que seriam divulgados ao mercado na temporada de balanços.

Os dois documentos foram obtidos pela Polícia Federal, sendo que o de informações falsas tinha como finalidade alcançar metas internas, aumentar bonificações e dar um preço mais alto para as ações da empresa.

👮🏼 Leia mais: Americanas (AMER3): PF emite mandado de prisão contra ex-CEO

Operação da PF

Com base no depoimento de Flávia e de Marcelo Nunes, que é outro ex-executivo da companhia, a PF deflagou nesta quinta-feira (27) a operação Disclosure. O objetivo é investigar os crimes de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

O ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez é um dos alvos da operação, que teve sua prisão decretada, mas está vivendo na Espanha para não ser preso. De acordo com O Globo, neste momento, uma extradição do investigado é considerada improvável.

Anna Christina Saicali, ex-diretora, também teve sua prisão temporária decretada, mas, no último dia 15, ela se mudou para Portugal. Ainda segundo O Globo, ela não tem cidadania portuguesa e está vivendo no país europeu com visto de trabalho.

Saicali teria transferido para o seu filho um patrimônio total de R$ 13 milhões, antes da revelação da fraude, em 2023. Ela foi afastada da empresa após que o escândalo se tornou público, mas disse que a transferência dos bens foi um planejamento sucessório por questões de saúde.

Escândalo contábil

Em janeiro de 2023, a Americanas publicou um fato relevante informando que havia detectado inconsistências contábeis bilionárias. No primeiro momento, a companhia de varejo falava em R$ 20 bilhões, mas essa conta logo subiu para R$ 22,5 bilhões.

Desde então, os papeis da varejista amagaram uma queda sucessiva, chegando a ser negociados por R$ 0,40 na quarta (26). Isso fez com que a companhia aprovasse, em maio, o grupamento de ações na proporção de 100 para 1, a partir de 17 de julho.

Segundo as investigações, os valores captados como empréstimo não eram lançados como dívidas no balanço da companhia. Desta forma, o real endividamento da companhia foi escondido por parte das gestoras da época.

A repercussão do caso foi muito além do mercado financeiro -com investigações da CVM (Comissão de Valores Mobiliários)- e passou a ser analisado pela PF e também no Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados chegou a instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), onde a própria Americanas citou diretores que estariam envolvidos no esquema.

Nesta quinta, as ações da Americanas eram negociadas com 2,5% de alta, a R$ 0,41 cada. Desde janeiro do ano passado, os papeis caíram 97%. Atualmente, a empresa tem um valor de mercado próximo de R$ 13 bilhões.