O
agronegócio é a espinha dorsal da economia brasileira, o qual tirou um baita peso das cotas ainda em novembro de 2025, após o presidente americano
Donald Trump remover a tarifa comercial de 40% sobre certos produtos brasileiros, em especial, a carne bovina e o café destinados aos Estados Unidos.
Para o analista de commodities Jean Miranda, do BTG Pactual, já dá para dizer que essa notícia é muito mais benéfica para o mercado do
boi gordo, enquanto os impactos sobre os
contratos futuros de café são menos óbvios.
"A notícia é boa para o mercado do boi gordo uma vez que sugere maior demanda, no caso, maior exportação de carne bovina: os americanos vinham adquirindo volumes crescentes até abril e, efetivamente, foram o segundo principal destino da carne brasileira até maio", comenta o especialista.
Contudo, o potencial de incremento de demanda advindo dos EUA não deve ser material a ponto de detonar altas sequenciais no mercado de
boi gordo. Pois, no curto prazo, uma pauta mais importante deve ser a investigação de salvaguarda conduzida pelo governo chinês, que avalia se e quanto as importações de carne têm fragilizado a indústria doméstica.
A depender dos resultados apurados pelo principal comprador da carne bovina brasileira, os chineses, teremos à frente ou a imposição de cotas ou aumento de tarifas sobre países exportadores, como o Brasil.
Enquanto isso, as ações dos frigoríficos brasileiros operam mistas nos últimos 30 dias, enquanto as cadeias globais do boi gordo se ajustam. Quem sai na frente são
MBRF (MBRF3) e
JBS (JBSS32), com valorizações de +33% e +14%, respectivamente. Por sua vez, a
Minerva Foods (BEEF3) recua -11%.
Café finalmente mais barato?
Não é de hoje que os consumidores brasileiros reclamam dos preços do
cafezinho, só que, com o recuo do tarifaço de Trump sobre o Brasil, os contratos futuros da commodity já operam em tendência de baixa.
"A expectativa do mercado era de que, em um primeiro momento, a retirada das tarifas deveria conduzir a uma redução no ímpeto comprador da commodity. Na véspera do anúncio oficial de isenção das tarifas, e sob rumores, o mercado futuro em Nova York caiu -3%; no dia seguinte ao anúncio, caiu mais -2%", destaca o analista do BTG Pactual, em relatório.
Os
contratos futuros de café na Bolsa de Valores de Nova York são derivativos legalmente vinculantes, por meio dos quais compradores adquirem o direito de receber, no vencimento, um lote de café físico certificado. Com o fim das tarifas, acaba virtualmente a urgência de se posicionar na ponta comprada, pois o fluxo físico – teoricamente – se reestabelece.
O BTG Pactual também avalia que, uma vez equacionada a questão das tarifas, o mercado de café deve se voltar novamente ao monitoramento do clima no Brasil, maior produtor do café tipo arábica do mundo.
"Os cafezais precisam de chuvas regulares até abril, mês que precede a colheita. As chuvas até novembro serão importantes para uma florada adequada – e outubro foi marcado por estresse hídrico na porção central do Brasil, com focos de seca no Sul de Minas Gerais. Na sequência, até abril, a regularidade das chuvas será essencial para a expansão e enchimento", conclui Miranda.
Logo, há, ainda, um longo caminho até maio, cravejado de muita incerteza climática e potencial volatilidade de preços do café, embora a cotação esteja um tanto mais em conta nos mercados globais, até o momento.