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Reunido na Rússia a partir desta terça-feira (22), o Brics discute a criação de alternativas ao atual sistema financeiro internacional. A proposta passa pela adoção de moedas nacionais e até criptomoedas nas transações realizadas entre os países do bloco, de forma a reduzir a dependência do dólar.
📈 O Brics é um grupo de países emergentes, formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia e China, que posteriormente incluiu a África do Sul e ganhou mais quatro integrantes neste ano: Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Irã. Com isso, o grupo já representa mais de 40% da população e de 36% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial.
Em relatório preparado para a cúpula dos líderes do Brics que começa nesta terça-feira (22) na cidade russa de Kazan, a Rússia destaca que o comércio realizado entre mercados emergentes e em desenvolvimento já representa 26% do comércio mundial e deve chegar a 32% em 2032. Contudo, pontua que esses mercados continuam recebendo a menor parcela dos investimentos mundiais.
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Em 2022, as economias avançadas receberam 76% dos investimentos mundiais e as emergentes, apenas 24%, segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional). Para o governo russo, essa diferença indica que as economias emergentes "continuam subfinanciadas, uma vez que os lucros gerados pelo crescimento do comércio são investidos no exterior, em mercados mais líquidos e acessíveis, em vez de beneficiarem a economia nacional".
A Rússia ainda sugere que essa disparidade é incentivada pelo atual sistema financeiro internacional, que foi construído ao final da Segunda Guerra Mundial e, desde então, vem sendo controlado por economias avançadas como os Estados Unidos. O documento russo pontua, por exemplo, que o grupo das 35 economias avançadas conta com 12 diretores no FMI, enquanto os outros 155 países membros da organização também são representados por 12 diretores. Por isso, diz que o sistema proporciona uma "vantagem significativa" para os países ricos e precisa ser repensado.
🪙 Diante desse cenário, o Brics defende a criação de alternativas ao atual sistema financeiro internacional. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, incentivou a criação de uma moeda para as transações comerciais e investimentos entre os membros do Brics na última cúpula do grupo, realizada no ano passado na África do Sul. O assunto será, então, aprofundado na cúpula deste ano, na Rússia.
A proposta, no entanto, também permitiria que esses países driblassem sanções impostas nos tradicionais canais financeiros. A Rússia, por exemplo, foi banida do Swift depois de invadir a Ucrânia. O Swift, ou Sociedade de Telecomunicações Financeiras Mundial, é um sistema bancário internacional que permite a troca de moeda entre diferentes países de forma rápida e segura. Por isso, a Rússia vem buscando outras formas de viabilizar pagamentos internacionais desde então e ampliou o uso do yuan, em substituição ao dólar.
Como é sede da cúpula do Brics neste ano, a Rússia apresentou uma proposta para avançar nessa discussão. A ideia é que seja criada uma rede de bancos comerciais que possam conduzir operações internacionais em suas próprias moedas ou por meio da versão digital das suas moedas. Afinal, muitos países, inclusive o Brasil, vêm discutindo a criação de CBDCs (Central Bank Digital Currency, moedas digitais que têm o lastro do Banco Central).
💵 O sistema, chamado de Iniciativa de Pagamento Transfronteiriço do BRICS, usaria tecnologias como o blockchain para garantir a segurança e a eficiência dessas transações. E, se bem sucedido, acabaria reduzindo o uso do dólar, já que a maior parte das transações atuais são liquidadas por meio da moeda americana.
A Rússia diz, no entanto, que o objetivo não é substituir o dólar, dada a sua importância na economia global. Mas “oferecer uma alternativa viável” ao mercado, que ajude a promover uma “globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva” e “reforçar o papel do Brics no sistema monetário e financeiro internacional”.
O governo russo ainda admite que é preciso tempo para que essa proposta saia do papel. Contudo, lembra que formas de pagamento alternativas ao dólar já estão em uso em muitos locais do mundo. Brasil e China, por exemplo, já fizeram transações baseadas apenas no real e no yuan, sem usar o dólar. Além disso, o Banco dos Brics, que hoje é chefiado pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff (PT), pretende conceder empréstimos nas moedas dos seus países-membros, como o real brasileiro e o rand indiano.
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