Via (VIIA3) oferta ações em meio a descrença do mercado

Empresa enfrenta alto grau de endividamento, além de sofrer com alta dos juros

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Publicado em 22/09/2023 às 17:54h - Atualizado 1 mês atrás Publicado em 22/09/2023 às 17:54h Atualizado 1 mês atrás por Marina Barbosa

Na esteira de uma onda de desvalorização, a Via (VIIA3) precifica nesta quarta-feira (13/09) a sua nova oferta de ações. A empresa, que agora se chama Casas Bahia (BHIA3) pretende movimentar R$ 981,1 milhões e usar este capital para melhorar sua estrutura de capital. O mercado, contudo, segue cauteloso com o rumo da varejista.

Dona das Casas Bahia, Ponto e Extra.com, a Via sofre com os juros altos, assim como todo o setor de varejo. Contudo, também enfrenta elevados índices de endividamento e alavancagem. Por isso, as ações da companhia já caíram cerca de 50% desde o início do ano na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo). Isto é, o preço caiu pela metade, de R$ 2,35 para aproximadamente R$ 1,20.

A desvalorização dos papeis acentuou-se depois do resultado do 2º trimestre de 2023. Nos 30 dias posteriores ao balanço, as ações só fecharam no azul em quatro dias. Nem o anúncio de medidas que tentam endereçar este problema foi suficiente para conter as quedas. O saldo foi uma perda acumulada de 38,1% no período.

Segundo dados do Investidor10, a rentabilidade real do papel despencou 38% no último mês, 547% nos últimos três meses e 68% em um ano. Isso significa que, se você tivesse investido R$ 1.000 nas ações da empresa há um ano, hoje você teria aproximadamente R$ 337.

Prejuízo e endividamento

A Via teve prejuízo líquido de R$ 492 milhões no 2º trimestre de 2023 e reportou um endividamento bruto de R$ 3,7 bilhões, além de R$ 1,5 bilhão de risco sacado. Contudo, nas notas explicativas, revelou ter também R$ 8,7 bilhões em empréstimos e financiamentos.

Para tentar reverter essa situação, a varejista anunciou um plano de transformação que prevê mudanças operacionais e alterações na estrutura de capital. No lado operacional, foi definido o fechamento de até 100 lojas ainda em 2023, a redução da despesa de pessoal e saldões, entre outras coisas. Já na estrutura de capital, a varejista decidiu acessar novas fontes de liquidez e estruturar um FIDC (Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios) atrelado ao seu crediário.

Dias depois de apresentar o plano de transformação, a Via ainda anunciou a oferta subsequente de ações que será precificada nesta quarta-feira (13/09). A oferta prevê a distribuição primária de 778.649.283 novas ações e pode levantar R$ 981,1 milhões se tiver como base o valor de R$ 1,26, registrado no fechamento anterior à divulgação do follow-on.

No lançamento da operação, a varejista afirmou que “pretende utilizar a totalidade dos recursos líquidos provenientes da oferta para promover a melhora da estrutura de capital da companhia, incluindo o investimento nas cotas subordinadas da operação de FIDC da carteira de crediário”.

A Via ainda oferece bônus de subscrição como “vantagem adicional” para os investidores que apostarem na oferta subsequente. Isto é, o direito de comprar uma ação da companhia pelo mesmo preço do follow-on no prazo de até 12 meses, em períodos específicos. A oferta, contudo, não mudou o humor do mercado em relação à companhia.

Ainda dentro do processo de transformação, a empresa alterou o seu nome para Casas Bahia e o ticker de negociação na B3 para BHIA3. Em nota, disse que o novo posicionamento da marca institucional reforça a estratégia de “de focar no DNA da sua principal bandeira, resgatando o histórico de bons resultados das categorias core, nas quais somos especialistas e reconhecidos como destino de compras”.

Mercado cauteloso

Analista da CM Capital, Pedro Canto disse que “o mercado não ‘comprou’ a ideia” da oferta subsequente de ações da Via porque “espera por melhorias concretas e evidentes no resultado dos próximos trimestres para voltar a olhar com perspectiva otimista para a empresa”.

“O case de Via é complicado e poderá ser custoso e demorado. Exigindo estômago e paciência do investidor. O ponto de virada no setor de varejo parece ainda não ter chegado”, afirmou.

Para Pedro Canto, o início da redução dos juros deve contribuir com os resultados do varejo. Ele disse, contudo, que isso só deve ocorrer a partir do fim do ano, já que as ações de política monetária chegam com defasagem na economia real.

Além disso, o analista avalia que a oferta subsequente de ações pode ser negativa para os acionistas. “Da ótica do investidor minoritário, caso não subscreva para a nova emissão, o efeito é negativo, pois a posição do acionista será diluída, o que representa uma menor fatia na participação dos lucros da companhia”, afirmou Pedro Canto.

O mercado também tem dúvidas sobre a efetividade da oferta para o caixa da companhia. “O follow-on é mais uma iniciativa da empresa para levantar capital, mas a companhia vem queimando caixa sistematicamente”, disse Canto.

“A empresa planeja fazer a emissão de novas ações para arrecadar mais recursos, mas está extremamente endividada, gera prejuízo e tem uma geração de caixa insustentável. Então, vejo um cenário negativo”, afirmou o analista chefe de ações do Simpla Club, Gabriel Bassotto.

“A empresa pode até ficar mais organizada, começar de novo de um patamar menor. Mas, por tudo que está tanto de indicação, a gente está bem receoso com o papel. A gente não tem recomendado muito e, para a frente, recomenda que o cliente fique muito atento à dívida e à ação”, reforçou o estrategista chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

Rebaixamento

Para deixar a situação ainda mais complicada, a S&P Global rebaixou os ratings de crédito da Via de “brAA-” para “brA-”, com perspectiva negativa, na sexta-feira (08/09). Tomando como base os resultados da empresa no primeiro semestre do ano, a agência de classificação de risco disse que os números indicam que a Via não atingirá as métricas de crédito esperadas.

“As métricas de crédito, sobretudo margem EBITDA e alavancagem, estão significativamente mais fracas do que esperávamos. A empresa apresentou margem EBITDA de 4,2% e dívida ajustada sobre EBITDA em torno de 10,5x nos últimos 12 meses, ante nossas projeções de 9,0% e 4,5x para 2023, respectivamente”, escreveu a S&P.

Para a agência, “os resultados apresentados pela Via no primeiro semestre de 2023 refletem os efeitos do ambiente macroeconômico e os desafios estruturais pelos quais o setor de varejo vem passando”. Entre eles, a queda da renda da população, as altas taxas de juros e o alto grau de competição.

A S&P disse ainda que esses desafios podem continuar afetando os resultados da Via em 2024 e 2025. A agência, no entanto, mostrou-se confiante na capacidade de recuperação da empresa no longo prazo. Para a S&P, “as medidas estratégicas em andamento podem trazer melhora relevante na gestão de capital de giro, rentabilidade e estrutura de capital da Via nos próximos anos”.

“Entendemos que a nova administração está engajada em adequar a estrutura da empresa para um ciclo de recuperação da rentabilidade. Porém deve levar algum tempo até que os efeitos se reflitam de forma mais material nos números. Esperamos que os próximos trimestres ainda sejam bastante desafiadores, com as despesas de reestruturação pressionando as margens”, concluiu a S&P.