Dólar subiu, e eu com isso?

O dólar acumula uma valorização de mais de 16% desde o início do ano em relação ao real.

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Publicado em 12/07/2024 às 08:06h - Atualizado 3 meses atrás Publicado em 12/07/2024 às 08:06h Atualizado 3 meses atrás por Elanny Vlaxio
O dólar chegou a bater em R$ 5,70 recentemente (Shutterstock)

💵 O dólar subiu? Prepare-se para sentir os efeitos no seu bolso. A alta da moeda americana, que recentemente atingiu R$ 5,70, a maior cotação em mais de um ano, não impacta apenas grandes empresas e o cenário econômico geral. Na prática, essa oscilação tem consequências diretas, afetando desde o custo de produtos importados até a inflação.

Preço dos produtos importados pode aumentar

Em primeiro lugar, o preço do dólar frente ao real brasileiro influencia diretamente o custo de produtos importados. Desde eletrônicos até itens de luxo, passando por insumos industriais e até mesmo alimentos importados, todos sofrem variações de preço conforme a cotação da moeda estrangeira. Isso ocorre porque as empresas que trazem esses produtos precisam ajustar seus preços para compensar as variações cambiais e manter sua margem de lucro.

"Os produtos que forem importados vão ficar um pouco mais caros em real, porque evidentemente na transformação de dólar para real vai ser cobrada a taxa de $1 dólar mais elevado. Ao mesmo tempo podem faltar alguns produtos importantes na mesa das pessoas, porque, principalmente, o agronegócio, por exemplo, trabalha com o aumento da lucratividade das empresas e dos setores", explicou Pedro Afonso, presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo.

💸 Segundo ele, as empresas concorrentes dos produtos importados "acham ótimo" que o dólar suba, algo que pode ser considerado um interesse a longo prazo. Já para Sidney Lima, analista da Ouro preto Investimentos, o aumento do preço dos importados pode pressionar a inflação.

"Os produtos importados ou que dependem de insumos importados ficam mais caros já que são comprados em dólar, isso acaba pressionando a inflação. No dia a dia, o dólar alto reduz o poder de compra das famílias, aumentando o custo de vida e tornando a economia mais desafiadora para as pessoas', disse.

Alto custo em viagens internacionais e dificuldade nos investimentos

Além disso, o dólar também impacta o custo de viagens internacionais. Aqueles que planejam uma escapada para o exterior precisam estar atentos à taxa de câmbio, pois uma valorização do dólar pode tornar a viagem mais cara, afetando desde passagens aéreas e hospedagem até as despesas diárias durante o período no exterior.

Por outro lado, essas flutuações do dólar também têm reflexos nos investimentos e podem, consequentemente, diminuir o crescimento econômico e as oportunidades de emprego e renda no Brasil.

🗣️ "A alta do dólar pressiona a inflação, que pode forçar o Banco Central a elevar a taxa de juros. Por consequência, juros mais altos encarecem o crédito, dificultando investimentos tanto para consumidores quanto para empresas. Isso pode resultar em menor crescimento econômico e, consequentemente, menores oportunidades de emprego e renda", analisou Lima.

Para ele, a volatilidade cambial pode gerar incertezas no mercado financeiro, desestimulando também os investimentos de longo prazo dado a incerteza de rentabilidade / retorno sobre o investimento. Vale citar que em recente relatório do Boletim Focus, os agentes do mercado financeiro elevaram mais uma vez a projeção de inflação para 2024, de 4,00% para 4,02%.

Por qual motivo o dólar não parava de subir?

Durante a última semana o dólar seguiu em trajetória ascendente, chamando atenção do mercado financeiro. Apesar de ter voltado para o patamar abaixo do R$ 5,70 nesta semana, diversos fatores, tanto internos quanto externos, contribuíram para alta da moeda americana na primeira semana de julho.

Na dinâmica atual, o dólar acaba subindo por conta de dois principais fatores: instabilidade política e econômica e déficit fiscal. "Incertezas internas, como crises políticas, críticas ao banco central e sua independência, podem aumentar a desconfiança dos investidores, levando à saída de capital do Brasil. Por outro lado, um elevado déficit fiscal e dívida pública acabam minando a confiança no real, pressionando o câmbio", explicou o especialista da Ouro preto Investimentos.

Na contramão, o presidente do Corecon-SP avaliou que as falas no presidente Lula não é bem o que impacta a flutuação do dólar, como é dito por alguns analistas do mercado. "Vão dizer que é o problema é o presidente Lula que fala e mexe com o mercado. Não é isso. O presidente Lula expressa sua opinião dentro da da análise política e social que ele faz. Não podemos conviver com dólar alto, não podemos conviver com juros altos", comentou.

Leia também: Dólar bate R$ 5,70: Três fatores que explicam a alta da moeda

No dia 2 de julho, o presidente afirmou que o real estaria sendo alvo de um ataque "especulativo" - acontece quando os investidores ganham dinheiro apostando na desvalorização de uma moeda - e, disse, que estava analisando o que o governo iria fazer a respeito. Dias depois, o dólar voltou a cair após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelar que o governo implementará um corte de R$ 35,9 bilhões em despesas obrigatórias e prometer o cumprimento do arcabouço fiscal.

Até o momento, o dólar acumulou uma valorização de mais de 16% desde o início do ano em relação ao real. No entanto, em junho, o mercado de ações brasileiro chegou a registrar uma queda de mais de 8% no ano, embora tenha apresentado uma leve recuperação desde então. Mas, vale lembrar que, em 2020, no governo Bolsonaro, o dólar chegou a bater R$ 5,9725.

O que esperar do governo e do Banco Central?

Essa recente escalada do dólar para R$ 5,70 trouxe novos desafios para o governo e o Banco Central brasileiro, exigindo uma resposta coordenada e estratégica para mitigar seus impactos na economia nacional. O ideal é uma atuação mais decisiva do governo e do Banco Central, como intervenções no mercado cambial para suavizar a volatilidade do dólar e possíveis ajustes nas taxas de juros, conforme explicaram os analistas.

"No lado do Banco Central, acredito que pode fazer Intervenções Cambiais, já que o Banco Central pode vender reservas internacionais ou usar swaps cambiais para fornecer liquidez ao mercado de câmbio e reduzir a pressão sobre o dólar", analisou Lima.

De acordo com o especialista da Ouro Preto, o governo também pode conter a fuga de capital estrangeiro e manter uma comunicação transparente. "O governo deve demonstrar uma clareza quanto ao compromisso do estado quanto a estabilidade fiscal principalmente relacionada ao déficit. Um outro grande ponto que tem sido sinalizado pelos investidores está relacionado à comunicação, já que manter uma comunicação clara com o mercado pode reduzir incertezas e especulações", afirmou.

Já para o Pedro Afonso, em agosto o brasileiro pode esperar novidades em resposta a alta da moeda americana. "A expectativa é que para o início de agosto tenhamos novidades. O governo e o banco central devem fazer primeiro uma análise da origem dessas motivações para a alta do dólar, conversar com os interlocutores e fazer com que eles percebam que não adianta elevar demais a taxa do dólar porque fica inviável para as pessoas que eventualmente dependem do dólar para as suas transações", explicou Gomes.