Banco do Brasil (BBAS3) na berlinda: BBI diz que situação ainda pode piorar

Em relatório publicado, os analistas da instituição revisaram suas projeções para o banco estatal e sua subsidiária BB Seguridade.

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Publicado em 02/08/2025 às 17:14h - Atualizado 10 horas atrás Publicado em 02/08/2025 às 17:14h Atualizado 10 horas atrás por Matheus Silva
De acordo com os especialistas, os sinais de fragilidade são cada vez mais evidentes (Imagem: Divulgação)

🚨 Antes mesmo da divulgação dos dados do Banco Central que provocaram forte reação negativa nas ações do Banco do Brasil (BBAS3), o Bradesco BBI já havia emitido um sinal de alerta ao mercado.

Em relatório publicado, os analistas da instituição revisaram suas projeções para o banco estatal e sua subsidiária BB Seguridade (BBSE3), incorporando um panorama de maior deterioração dos ativos rurais e menor dinamismo no crédito e nos prêmios de seguros.

De acordo com os especialistas, os sinais de fragilidade são cada vez mais evidentes e devem influenciar diretamente os resultados operacionais e a performance das ações nos próximos trimestres.

Qualidade dos ativos rurais atinge pior nível da história

Um dos pontos centrais do relatório do Bradesco BBI é o agravamento da inadimplência nas operações de crédito rural.

Segundo os analistas Marcelo Mizrahi e Renato Chanes, os dados mais recentes do Banco Central indicam que a qualidade desses ativos está em queda livre.

“Destacamos que a qualidade dos ativos rurais atingiu o nível mais baixo de todos os tempos, com 3,5% de inadimplência em 90 dias e 2,9% de inadimplência antecipada (15 a 90 dias)”, escreveram os analistas.

Essa piora se explica, segundo o BBI, por um conjunto de fatores econômicos que reduziram a capacidade de pagamento dos produtores desde o início de 2023.

A retração no ritmo de crescimento da economia e os efeitos do endividamento rural criaram um ambiente desafiador para o segmento, pressionando a saúde financeira da carteira do banco.

Além disso, a expectativa é de que esse cenário piore ainda mais. Isso porque diversas operações de crédito do tipo bullet — que concentram o pagamento do principal no vencimento — devem vencer nos próximos trimestres.

Combinado ao prolongamento no prazo de reconhecimento contábil trazido pela Resolução nº 4.966 do Banco Central, o atraso na normalização dos indicadores pode prolongar o impacto nos balanços do Banco do Brasil.

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BB (BBAS3): Projeções mais cautelosas até 2026

Diante desse contexto adverso, o Bradesco BBI adotou uma abordagem mais conservadora para os resultados futuros do Banco do Brasil.

O banco agora projeta que o índice total de inadimplência poderá atingir um pico de 5,8% no segundo trimestre de 2026, com leve recuo para 5,35% até o final de 2025 e 5,0% no encerramento de 2026.

Para fazer frente a esse risco de crédito, a equipe de análise aumentou as estimativas de provisões para perdas: de R$ 42 bilhões para R$ 53 bilhões em 2025, o que representa um avanço de 25% em relação à projeção anterior. Para 2026, as provisões devem alcançar R$ 45 bilhões, alta de 4,1%.

Além das provisões mais robustas, houve uma revisão importante nas expectativas de crescimento da carteira de crédito.

Agora, o Bradesco BBI espera uma expansão de 5,7% para 2025 (ante os 7,4% anteriores) e 4,5% para 2026 (contra 7,7% previamente projetados). A redução também se estende às margens financeiras, que devem ser ligeiramente menores nos dois anos.

Essas mudanças afetam diretamente o resultado líquido estimado. A nova previsão de lucro para o Banco do Brasil é de R$ 23 bilhões em 2025 — valor 16% inferior ao consenso de mercado — e R$ 27,4 bilhões em 2026, o que representa 13% abaixo das expectativas médias dos analistas.

Outro ajuste importante diz respeito ao payout — porcentagem do lucro distribuído aos acionistas.

O Bradesco BBI revisou esse indicador de 40% para 30%, justificando a necessidade de o banco adotar uma postura mais prudente diante do ambiente de maior incerteza nos resultados.

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Nem a BB Seguridade (BBSE3) não escapou

Os reflexos da desaceleração da atividade econômica e da nova projeção de crescimento mais tímido para o Banco do Brasil também chegaram à BB Seguridade (BBSE3), subsidiária responsável pelas operações de seguros, previdência e capitalização.

Segundo o Bradesco BBI, os impactos devem ocorrer em duas frentes principais:

  • Receitas de corretagem: a expectativa de menor atividade no BB levou à revisão das estimativas, agora com queda de 2% nas receitas para 2025 e 6% para 2026;
  • Prêmios emitidos: o menor volume de prêmios emitidos pela Brasilseg em 2025 (queda de 5%) deve impactar negativamente os prêmios ganhos em 2026, com revisão de 4% para baixo na contribuição da seguradora.

Além disso, o relatório também incorporou um cenário de taxa Selic mais baixa, o que reduz o retorno sobre os investimentos financeiros da seguradora.

Como resultado, as projeções de lucro líquido da BB Seguridade foram ajustadas: R$ 8,8 bilhões em 2025 (ligeira alta de 1% em relação ao modelo anterior) e R$ 8,9 bilhões em 2026, o que representa queda de 4% frente à estimativa anterior. O valor de 2026 também está 4% abaixo do consenso de mercado.

Preços-alvo e recomendações mantidas

💲 Apesar das revisões, o Bradesco BBI manteve a recomendação neutra para ambos os papéis, mas ajustou os preços-alvo.

Para as ações BBAS3, o novo preço-alvo passou a ser R$ 21, enquanto BBSE3 teve o preço revisado para R$ 39.

As atualizações indicam uma postura de cautela diante de um ciclo mais difícil para o crédito rural, que pode afetar tanto o desempenho bancário quanto as atividades ligadas à distribuição de seguros e serviços financeiros.

O alerta do Bradesco BBI reforça que os desafios enfrentados pelo setor financeiro — especialmente no crédito rural — estão longe de serem superados.