Airbnb (AIRB34) “reabre” Coliseu em Roma e causa confusão entre romanos

O Coliseu, que já foi palco de batalhas épicas, agora enfrenta outra disputa: entre tradição e inovação.

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Publicado em 07/12/2024 às 16:27h - Atualizado 19 dias atrás Publicado em 07/12/2024 às 16:27h Atualizado 19 dias atrás por Matheus Rodrigues
O Airbnb doou US$ 1,5 milhão à revitalização de uma exposição no Coliseu (Imagem: Shutterstock)

🚨 O Coliseu de Roma, um dos monumentos mais icônicos e visitados do mundo, está no centro de uma nova controvérsia.

Em parceria com o Airbnb (AIRB34), a arena está prestes a sediar um evento inédito que promete "despertar o gladiador interior" de alguns poucos sortudos.

A iniciativa, que mistura história e entretenimento, também reacendeu debates fervorosos entre moradores, líderes culturais e entusiastas do patrimônio histórico da capital italiana.

Durante duas noites em maio, um grupo limitado de até 32 pessoas terá a oportunidade de vivenciar uma recriação das lutas de gladiadores na arena milenar.

Guiados por especialistas em história romana e membros de associações de encenação histórica, os participantes aprenderão sobre as técnicas e a vida desses combatentes históricos.

Para viabilizar o projeto, o Airbnb doou US$ 1,5 milhão à revitalização de uma exposição permanente no Coliseu.

Segundo a empresa, o objetivo da parceria é contribuir para a conservação contínua do monumento e educar os visitantes sobre sua relevância histórica.

Contudo, essa justificativa não convenceu muitos romanos, que veem a ação como um desrespeito ao valor cultural e simbólico do Coliseu.

Patrimônio ou parque temático?

Massimiliano Smeriglio, membro da Câmara de Vereadores de Roma, lidera a oposição ao evento, classificando-o como um “parque temático” disfarçado.

Ele destacou a importância de preservar o caráter histórico do local e questionou a necessidade de retribuição material em parcerias culturais.

Outros críticos, como Viviana Piccirilli Di Capua, representante de uma associação de moradores no centro de Roma, apontam para os impactos negativos que plataformas como Airbnb já causaram à cidade.

De acordo com Viviana, a transformação de imóveis residenciais em aluguéis de curto prazo tem contribuído para a expulsão de moradores locais, agravando os desafios de habitação acessível.

“Essa parceria reforça práticas que destroem nossas comunidades,” afirmou ela, citando o aumento dos aluguéis de curto prazo em Roma como uma ameaça ao tecido social da cidade.

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Defensores da experiência

Nem todos compartilham dessa visão crítica. Federico Mollicone, deputado do partido Irmãos da Itália, destacou que o Coliseu foi originalmente projetado como espaço de entretenimento.

Segundo ele, resgatar encenações históricas é uma forma legítima de revitalizar o turismo cultural.

“A história não precisa ser intocável. É possível preservá-la enquanto promovemos experiências imersivas”, argumentou Mollicone, mencionando exemplos bem-sucedidos em outras arenas históricas, como a de Nîmes, na França.

O Gruppo Storico Romano e a Ars Dimicandi, duas associações especializadas em recriações históricas, reforçam o potencial educativo da iniciativa.

Andrea Buccolini, porta-voz do Gruppo Storico Romano, defendeu que eventos como este ajudam a combater os estereótipos populares perpetuados por filmes como “Gladiador”, de Ridley Scott.

“É uma oportunidade para mostrar o que realmente aconteceu. Muitos gladiadores eram voluntários e nem sempre lutavam até a morte”, explicou Dario Battaglia, fundador da Ars Dimicandi.

Relação tensa

A controvérsia ocorre em um momento delicado para o turismo na Europa. Com o aumento no número de visitantes após a pandemia, cidades como Barcelona e Atenas têm enfrentado tensões entre as demandas do setor e as necessidades das comunidades locais.

Em Roma, a questão é agravada pela preparação para o Jubileu de 2025, que deve atrair milhões de peregrinos à cidade.

A crítica ao Airbnb vai além da experiência no Coliseu. Plataformas de hospedagem enfrentam crescente resistência em várias cidades, acusadas de transformar bairros residenciais em zonas turísticas e desestabilizar mercados imobiliários.

Para muitos romanos, o Coliseu é mais do que um ponto turístico. Ele é um símbolo nacional que carrega a história de um império.

A ideia de usá-lo como palco de experiências imersivas, ainda que educacionais, provoca fortes reações.

O Airbnb, por sua vez, defende a iniciativa como um passo em direção à promoção do patrimônio cultural de forma acessível e moderna.

“Nosso objetivo é enriquecer a compreensão sobre a história, respeitando sua importância para a humanidade”, disse um porta-voz da empresa.

Com o evento marcado para acontecer em breve, o debate continua. Para uns, é uma chance de reinventar o turismo histórico; para outros, uma afronta à preservação de um ícone mundial.

O Coliseu, que já foi palco de batalhas épicas, agora enfrenta outra disputa: entre tradição e inovação.