Zona de guerra com mais de 130 mortos: Operação no Rio repercute na imprensa internacional

Terça (29) foi considerado o mais letal da história recente do Brasil, atrás apenas do Carandiru

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Publicado em 29/10/2025 às 12:09h - Atualizado 5 minutos atrás Publicado em 29/10/2025 às 12:09h Atualizado 5 minutos atrás por Wesley Santana
Mais de 300 mil pessoas vivem nas comunidades onde a operação foi realizada (Imagem: Shutterstuck)
Mais de 300 mil pessoas vivem nas comunidades onde a operação foi realizada (Imagem: Shutterstuck)

Na última terça-feira (28), o Rio de Janeiro foi palco de um dos dias mais letais da história recente do Brasil. Uma megaoperação policial contra traficantes resultou na morte de mais de 130 pessoas, incluindo agentes das polícias Civil e Militar fluminenses.

A operação teve como alvo a facção Comando Vermelho e seus integrantes nos complexos do Alemão e da Penha, ambos na capital carioca. Logo nas primeiras horas da manhã, imagens mostravam cenas de caos absoluto nas ruas dos bairros próximos a essas comunidades.

Com o passar do dia, a situação foi sendo controlada, mas o saldo final ficou longe do ideal para uma ação de segurança pública. No fim da tarde, o balanço apontava 64 mortos — todos classificados como suspeitos —, número que continuou subindo nas horas seguintes.

Durante a madrugada, moradores levaram ao menos 55 corpos até a Praça São Lucas, uma das principais da região. Segundo o último balanço da Defensoria Pública do Estado, o total de mortos chegou a 132, sendo 128 civis e quatro policiais.

Leia mais: Megaoperação no RJ expõe facção que fatura mais do que empresas da Bolsa

A operação mobilizou mais de 2,5 mil agentes, com o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão expedidos pela Justiça. A ação faz parte da Operação Contenção, conduzida pelo governo estadual para combater o crime organizado.

O governador Cláudio Castro (PL) classificou a ação como “a maior operação das forças de segurança do Rio de Janeiro”. “Teve início com o cumprimento de mandados judiciais, após uma investigação de mais de um ano e um planejamento feito há mais de 60 dias”, afirmou.

Ele destacou ainda a apreensão de cerca de 100 fuzis e uma grande quantidade de drogas, além da prisão de Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão”, acusado de liderar o tráfico no CV, e Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro da facção.

A polícia, no entanto, não conseguiu capturar Edgar Alves Andrade, conhecido como “Doca”, considerado líder máximo do Comando Vermelho. Fontes da PM afirmam que, no momento da operação, ele estava escoltado por cerca de 70 homens armados.

Agora, as autoridades oferecem uma recompensa de R$ 100 mil por informações que levem ao paradeiro do suspeito. Esse é o mesmo valor pago por Fernandinho Beira-Mar, que fuiu para a Colômbia antes de ser preso

Ao final do dia, o governador fluminense atribuiu parte da responsabilidade ao governo federal, o acusando de omissão. Castro disse ter feito três pedidos de apoio ao Exército para operações no estado, embora não existam registros formais de solicitações relacionadas à ação desta terça-feira.

"Nós já entendemos que a política é não ceder. Falam que tem que ter GLO [Garantia da Lei e da Ordem], que tem que ter isso, que tem que ter aquilo, que podiam emprestar o blindado e depois não podiam mais emprestar porque o servidor que opera o blindado é federal. O presidente já falou que é contra a GLO. A gente entendeu que a realidade é essa", declarou.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, rebateu as críticas e afirmou que o governo federal tem prestado apoio ao estado, inclusive com o envio de armas e equipamentos. Ele reforçou que não recebeu nenhum pedido de auxílio específico para essa operação e lembrou que a segurança pública é responsabilidade dos governadores.

"Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro para esta operação, nem ontem, nem hoje, absolutamente nada... Nenhum pedido do governador Cláudio Castro até agora foi negado", afirmou o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).


Repercussão internacional

Já conhecido pelos confrontos recorrentes, essa não é a primeira vez que o RJ vira um cenário de guerra. Outras diversas ações da polícia contra os criminosos fizeram a cidade mais famosa do país parar. No entanto, o evento desta terça marca não só pelo saldo de mortes, como por todas as repercussões dentro e fora das comunidades onde a operação foi realizada. Ao redor do mundo, jornais noticiaram o dia mais letal da história do RJ.

No Reino Unido, o The Guardian destacou o caso como “o pior dia de violência da história do RJ”, lembrando que mais de 300 mil pessoas vivem nas áreas afetadas.

"Mais de 80 pessoas foram presas e pelo menos 93 fuzis automáticos apreendidos. As armas são um sinal do poderoso arsenal que os traficantes do Rio acumularam desde o final da década de 1980", descreveu a publicação.

Nos Estados Unidos, o The New York Times ressaltou as declarações de Castro, que classificou a ação como uma ofensiva contra “narcoterroristas”, traçando um paralelo com a retórica do presidente Donald Trump. "A declaração do governador ecoou um termo que se tornou central na campanha contínua do presidente Trump contra o narcotráfico na América Latina", diz a reportagem do New York Times.

Na Argentina, o El Clarín avaliou que o confronto pode afetar a sensação de segurança dos turistas: “Um episódio como o de terça-feira aumentará a percepção de insegurança e poderá impactar potenciais visitantes”, apontou o jornal, lembrando o recorde de turistas estrangeiros no RJ em 2025.

Organismos internacionais também se pronunciaram sobre a situação no Rio de Janeiro, caso da ONU (Organização das Nações Unidas) que emitiu uma nota sobre o caso.

"Essa operação mortal amplia a tendência de consequências extremamente letais das operações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil. Lembramos as autoridades de suas obrigações sob as leis internacionais de direitos humanos e pedimos investigações ágeis e eficazes."