Senado aprova reforma tributária, com IVA e trava para impostos

Reforma foi aprovada em dois turnos, por 53 votos a 24, e volta para a Câmara dos Deputados

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Publicado em 08/11/2023 às 19:22h - Atualizado 1 mês atrás Publicado em 08/11/2023 às 19:22h Atualizado 1 mês atrás por Marina Barbosa
Senado aprovou reforma tributária nesta quarta-feira (Shutterstock)

reforma tributária foi aprovada nesta quarta-feira (8) pelo Senado Federal, em votação apertada. A proposta registrou o mesmo placar, de 53 votos a 24, nos dois turnos de votação. Agora, volta para a Câmara dos Deputados.

Por se tratar de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), a reforma precisava ser aprovada em dois turnos por três quintos dos senadores. Isto é, precisava receber ao menos 49 de 81 votos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, queria aprovar a reforma com uma folga de ao menos 60 votos.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), celebrou a aprovação da reforma tributária. Ele disse que o texto vai "reduzir a complexidade burocrática, o que possibilitará às empresas concentrar recursos e esforços em seus negócios principais, fomentando a inovação e estimulando o crescimento econômico".

"A transparência do novo sistema tem ainda o potencial de alavancar a atração de investimentos estrangeiros, de modo a impulsionar o desenvolvimento econômico e a criação de empregos no Brasil", afirmou Pacheco, que também citou uma "tributação mais justa e equitativa" capaz de contribuir com a redução das desigualdades sociais no país. 

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O relator do texto no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), lembrou que a reforma tributária era discutida há cerca de 40 anos no Congresso Nacional. Por isso, classificou a aprovação como uma "vitória da democracia brasileira". "O texto ao qual chegamos não é uma obra de arte perfeita, mas representa o consenso possível dentro da correlação de forças democráticas", afirmou.

Braga citou um estudo do Ministério da Fazenda que projeta um crescimento adicional da economia brasileira entre 12% e 20% num período de 10 a 15 anos com a reforma tributária. "Significa, em média, R$ 470 de renda a mais por mês para cada brasileiro, além da possibilidade de abertura de 12 milhões de novos empregos", afirmou o relator.

A reforma tributária foi aprovada em plenário depois de passar pela CCJ do Senado na terça-feira (7). No mesmo dia, os senadores aprovaram um calendário especial que permitiu a votação da matéria em plenário, em dois turnos, nesta quarta-feira (8). Senadores contrários à reforma, no entanto, queriam mais tempo para analisar o texto antes da votação.

No plenário, os senadores rejeitaram todos os destaques que propunham alterações ao texto. O projeto aprovado pelo Senado, contudo, traz alterações em relação ao que foi saiu da Câmara dos Deputados em julho. Por isso, precisa passar por nova análise dos deputados.

Reforma simplifica impostos

A reforma tributária pretende simplificar o sistema de impostos brasileiros. Por isso, prevê a transformação de cinco impostos (ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins) em três: IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e IS (Imposto Seletivo). Os dois primeiros têm a natureza de um IVA (Imposto sobre o Valor Adicionado).

Já o Imposto Seletivo, conhecido como imposto do pecado, incidirá sobre produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, além de armas e munições, exceto quando destinadas à administração pública. O texto aprovado pelo Senado ressalta que esse imposto não incidirá sobre energia elétrica e telecomunicações 

Trava de impostos

O texto ainda prevê um período de transição de sete anos, de 2026 a 2032, para o novo sistema tributário, além de uma trava para o crescimento da carga tributária. A trava foi inserida pelo relator da matéria no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM). Segundo ele, a trava não permitirá que haja aumento de imposto para o contribuinte

Pela proposta, a carga tributária dos impostos que serão criados com a reforma tributária deve ser calculada a cada cinco anos, a partir de 2030, e não poderá ultrapassar o patamar de referência dos anos anteriores. Se ultrapassar esse patamar, a alíquota deve ser reduzida.

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A reforma não estabelece a alíquota dos novos impostos. O Ministério da Fazenda calcula, contudo, que a alíquota do IVA deve chegar a 27,5%. A ideia é que a alíquota contemple as exceções previstas pela reforma tributária sem reduzir a atual arrecadação do governo.

Segundo estudo da PwC, este pode ser o maior IVA do mundo. Pelo estudo, atualmente, o IVA de maior alíquota é o da Hungria, 27%. Este foi um dos pontos criticados pelos senadores que votaram contra a reforma. 

Braga, por sua vez, defendeu a reforma dizendo que o texto garante simplificação e neutralidade da carga tributária, além de segurança jurídica e transparência. Segundo ele, esta mudança pode ajudar o Brasil a "voltar a ter competitividade, crescimento econômico e geração de emprego e renda".

"Os brasileiros não aguentam mais este manicômio tributário que vem se arrastando nos últimos 40 anos no Brasil", disse o relator.

Cesta básica

A reforma tributária prevê isenção tributária para produtos da cesta básica. A ideia é desonerar alimentos essenciais e estabelecer uma tributação reduzida para outros itens da cesta básica, a cesta básica estendida. 

Além disso, a reforma prevê uma redução de 60% do imposto aplicado a medicamentos e produtos de higiene pessoal e limpeza majoritariamente consumidos por famílias de baixa renda. 

O texto também cria um cashback, isto é, devolução de parte dos impostos pagos pela baixa renda, na compra de produtos da cesta básica estendida e do botijão de gás. Também haverá cashback na conta de luz.

Exceções

A reforma tributária também prevê um tratamento tributário diferenciado para serviços de transporte público coletivo; produções artísticas, culturais, jornalísticas e audiovisuais nacionais; atividades desportivas e comunicação institucional. 

Os setores de combustíveis e lubrificantes, saneamento, concessão de rodovias, missões diplomáticas, transporte, telecomunicações, agências de viagem e turismo também terão um regime especial, bem como profissionais liberais licenciados, como advogados e médicos.

Segundo a última versão do parecer de Eduardo Braga, a compra de automóveis por pessoas com deficiência e taxistas também terá vantagens tributárias e os benefícios fiscais para plantas de produção automobilística nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste serão prorrogados até dezembro de 2032.

Segundo o relator da reforma tributária no Senado, a lista de beneficiários dos regimes diferenciados de tributação deve ser revista a cada cinco anos.

Fundo de Desenvolvimento Regional

A reforma tributária cria um Fundo de Desenvolvimento Regional que prevê repasses da União para os estados. No Senado, a previsão de recursos do fundo subiu de R$ 40 bilhões para R$ 60 bilhões até 2043. O valor foi acertado com o Ministério da Fazenda, depois de os governadores solicitarem um montante de R$ 75 bilhões a R$ 80 bilhões por ano. 

Além disso, o texto cria um Comitê Gestor, que deve garantir a distribuição dos recursos arrecadados pelos novos impostos entre União, estados e municípios. Para evitar ingerências políticas no comitê, Braga propôs que o presidente do colegiado deva ter “notórios conhecimentos de administração tributária, e será nomeado após aprovada a indicação pela maioria absoluta do Senado Federal”.