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Moore Threads, fabricante chinesa de chips gráficos fundada por um ex-executivo da
Nvidia (NVDA), teve uma estreia avassaladora na bolsa de tecnologia de Xangai, a Star Market, ao disparar 425% em seu primeiro dia de negociação.
A ação saiu do preço inicial de 114,28 yuans e fechou o pregão a impressionantes 600,5 yuans, levando a empresa a captar cerca de 8 bilhões de yuans, o equivalente a mais de R$ 6 bilhões, e marcando o segundo maior IPO da China continental em 2025.
Fundada em 2020 por Zhang Jianzhong, que por anos comandou a operação chinesa da Nvidia, a Moore Threads representa um movimento estratégico de Pequim para consolidar sua independência tecnológica em áreas-chave como a
inteligência artificial, especialmente após o endurecimento das restrições dos Estados Unidos.
As sanções impostas por Washington limitaram o acesso da China aos chips mais avançados da Nvidia, como os da linha H100 e H200, o que acelerou a necessidade de desenvolver soluções nacionais.
Apesar de ainda ser considerada uma fabricante de “segunda linha” em relação a gigantes como Huawei e Cambricon, a Moore Threads vem ganhando protagonismo.
Especialistas da consultoria Bernstein estimam que a empresa deve gerar cerca de US$ 58 milhões em vendas de chips em 2025, número ainda pequeno se comparado aos US$ 10 bilhões projetados para Huawei e Nvidia, mas que mostra seu crescimento consistente e sustentado por forte apoio estatal e da iniciativa privada chinesa.
A companhia nasceu focada em placas gráficas para games, mas rapidamente adaptou sua arquitetura para competir no mercado de chips de IA, inclusive em áreas como modelos de linguagem generativa — repetindo a estratégia da própria Nvidia.
Apesar das dificuldades tecnológicas, como a necessidade de migrar sua produção da TSMC para a chinesa SMIC após sanções dos EUA, a Moore Threads conseguiu viabilizar sua entrada no mercado de capitais com uma impressionante valorização e o apoio de investidores estratégicos como o fundo HongShan (ex-Sequoia Capital China).
Esse movimento não está isolado. A China já aprovou a abertura de capital de outras fabricantes de chips de IA, como a MetaX, que também será listada na Star Market.
Empresas como Biren e Enflame também preparam suas estreias em Hong Kong, o que reforça a tese de que Pequim está acelerando a formação de um ecossistema de tecnologia capaz de desafiar diretamente o domínio americano.
A entrada em cena da Moore Threads também ocorre em um contexto de escassez global de chips de IA e com o Congresso americano debatendo se permitirá que a Nvidia venda modelos menos potentes para o mercado chinês.
Parte dos parlamentares teme que isso fortaleça os concorrentes chineses, enquanto outra parte defende que manter as empresas locais dependentes da tecnologia americana é, na verdade, uma forma de manter o controle do avanço da inteligência artificial.
Mesmo ainda operando no vermelho, a Moore Threads conseguiu aprovação acelerada dos reguladores chineses para abrir seu capital, após o afrouxamento de exigências de lucratividade.
Isso reflete a estratégia do governo chinês de direcionar capital para setores considerados estratégicos, mesmo que ainda não rentáveis.
📊 A empresa pode não competir em escala com Nvidia e Huawei no curto prazo, mas sua estreia no mercado deixa um recado claro: a China está disposta a financiar, desenvolver e sustentar seus próprios campeões na corrida global da IA.