Real chega aos 30 anos como uma das moedas mais fortes da América

No entanto, inflação acumulada do período foi de quase 800%

Author
Publicado em 01/07/2024 às 18:11h - Atualizado 1 dia atrás Publicado em 01/07/2024 às 18:11h Atualizado 1 dia atrás por Wesley Santana
Real brasileiro é uma das moedas mais fortes da América Latina. Foto: Shutterstock

💸 O Plano Real completa neste mês de julho 30 anos desde a sua criação, em 1994. O programa foi iniciado pelo governo Itamar Franco com o objetivo de controlar a inflação no Brasil.

Antes do lançamento, a inflação mensal chegou a 47,4%, enquanto a anual alcançou o patamar de quase 5.000%. No mês de julho, já com uma nova composição, os preços avançaram apenas 6,4%.

As diferenças econômicas daquela época para hoje são perceptíveis em uma ida ao supermercado, por exemplo. Para este ano, segundo a meta do Banco Central, os brasileiros sofrerão um reajuste médio de 3% nos preços em todo o ano, podendo oscilar 1,5% para mais ou menos.

💲Leia mais: Focus: Mercado já vê inflação de 4% em 2024

O real foi executado pela equipe do então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, com nomes que ainda são conhecidos pelos brasileiros: André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco e Persio Arida. O programa aconteceu em várias fases, mas começou com um sério ajuste fiscal nas contas públicas.

Na sequência, houve a troca das moedas, em que o cruzeiro foi substituído pelo cruzeiro real, que logo foi convertido na Unidade Real de Valor. Um URV foi equivalente a cerca de 647 do cruzeiro real, mas tinha sua cotação atualizada diariamente pelo BC.

Já em junho, houve a conversão final do URV para o real como se conhece hoje, equiparando as duas moedas no mesmo valor. Ou seja, 1 URV tinha o mesmo valor do real que, por sua vez, tinha paridade ao dólar.

O produto foi tão bom que, no ano seguinte, FHC ganhou as eleições presidenciais no primeiro turno, com 54% dos votos. Posteriormente, já em 1998, ele ainda foi reeleito para um novo mandato com 53% dos votos.

Real mudou o comportamento

Antes do Real, os brasileiros recebiam os salários e logo corriam para os supermercados para fazer a compra do mês. Isso acontecia porque, em razão da inflação, os preços podiam variar fortemente de um dia para o outro.

O mesmo valia para outros projetos, como viagens, planos de universidade e compra de itens mais caros, como casa ou carro. Soma-se a isso o fato de que não havia estímulo para poupança, já que o valor aplicado seria corroído pela inflação, mesmo que os rendimentos acompanhassem parte dos ajustes de preços.

"Cheguei a ouvir de um fazendeiro de São Carlos que seus funcionários lhe pediam que os pagasse em dias aleatórios e sem aviso prévio, porque se o comércio local ficasse sabendo quando recebiam, subia os preços na véspera", lembra o economista Edmar Bacha, um dos arquitetos do Plano Real, em entrevista à BBC.

O reflexo também foi visto na redução da pobreza, uma vez que o fim da inflação e a consolidação de uma moeda forte produzem menos pressão sobre os mais pobres. A implantação da nova moeda ainda abriu caminho para aumentos reais no salário mínimo e para a expansão de benefícios sociais que dão poder de compra aos brasileiros.

Atualmente, em comparação ao dólar e euro, o real é a segunda moeda valiosa da América do Sul, atrás apenas do Novo Sol Peruano. Em termos de circulação e liquidez, a brasileira lidera a lista.