Partido de Milei surpreende, vence eleições na Argentina e faz bolsa disparar 20%

Com a vitória, índice Merval salta e o risco-país cai; dólar também recua frente ao peso argentino.

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Publicado em 27/10/2025 às 12:32h - Atualizado 10 minutos atrás Publicado em 27/10/2025 às 12:32h Atualizado 10 minutos atrás por Wesley Santana
Javier Milei é presidente da Argentina desde 2023 quando foi eleito para mandato de 4 anos (Imagem: Shutterstuck)
Javier Milei é presidente da Argentina desde 2023 quando foi eleito para mandato de 4 anos (Imagem: Shutterstuck)

O presidente da Argentina passou por um verdadeiro teste de fogo neste último domingo (26). Depois de sofrer derrotas nas eleições provinciais, o partido governista conseguiu recuperar terreno e conquistar a maioria dos votos nas eleições de meio de mandato para deputados e senadores.

Com mais de 99% das urnas apuradas, o A Liberdade Avança (tradução para o português) somou 9,3 milhões de votos e garantiu 64 deputados na Câmara — entre as 127 cadeiras em disputa. Para o Senado, foram quase 2,2 milhões de votos, o que rendeu 13 das 24 vagas disponíveis.

A principal força de oposição, Força Pátria, ligada ao movimento peronista, obteve 7,2 milhões de votos e ficou com 44 deputados. Já no Senado, o grupo somou cerca de 1,5 milhão de votos e conquistou 7 assentos na Casa.

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O grande imbróglio dessas eleições estava concentrado na Província de Buenos Aires, o maior colégio eleitoral do país. Por lá, no mês passado, o partido de Milei havia sido derrotado nas eleições locais que definiram os deputados estaduais.

O LLA (La Libertad Avanza) correu contra o tempo para reverter o cenário e evitar que o resultado se repetisse em outras províncias. E teve sucesso: obteve 3,6 milhões de votos contra 3,5 milhões da oposição na disputa para a Câmara dos Deputados.

O desempenho foi ainda mais expressivo em Córdoba, onde o partido alcançou 822 mil votos, contra apenas 98 mil da Fuerza Patria. Entre as 23 províncias argentinas, o mileísmo perdeu em apenas nove delas.

Embora o resultado seja positivo para o governo, a votação nacional foi marcada por abstenção recorde: apenas 68% dos argentinos aptos compareceram às urnas — o índice mais baixo desde 1983, segundo a Justiça Eleitoral do país vizinho.

“Argentina grande”, diz Milei

Logo após a consolidação dos resultados, o presidente se reuniu com sua equipe para fazer um pronunciamento. Ele falou por volta das 22h30, comemorando os números obtidos, que, segundo ele, representaram um “ato cívico de todos os argentinos”.

"Assim como agradeço a todos os argentinos pelo enorme ato cívico, seria hipócrita se eu não fizesse um agradecimento particular aos que abraçaram as ideias da liberdade. Que linda a Argentina fica de violeta [a cor do seu partido]", disse ele.

"O povo argentino decidiu deixar para trás cem anos de decadência e persistir no caminho da liberdade, do progresso e do crescimento. Hoje começa a construção da Argentina grande", continuou.

Já o principal opositor, Axel Kicillof, governador da Província de Buenos Aires, destacou os resultados locais e criticou o presidente por ignorar o sacrifício do povo. Ele também comentou sobre a recente viagem de Milei aos Estados Unidos, onde se encontrou com Donald Trump.

"Observamos que em 7 de setembro, quando o povo da província se pronunciou, o governo foi aos Estados Unidos pedir apoio a Donald Trump. Quero deixar claro que os EUA não são uma sociedade beneficente; vieram à Argentina para lucrar e colocar nossos recursos em risco. O governo tem ainda mais responsabilidade agora", frisou Axel.

O presidente dos EUA também comentou a vitória e ressaltou que parte do resultado se deve ao seu apoio explícito. "Quero parabenizar o vencedor, e ele foi um grande vencedor, que teve muita ajuda nossa", destacou.

"Eu dei a ele um apoio, um apoio forte. Foi realmente inesperado ter uma vitória como essa. Algumas pessoas pensaram que seria difícil vencer, e ele não apenas venceu, mas o fez por muito", acrescentou o republicano.

Mercado reage eufórico

O mercado aguardava ansiosamente pelos resultados das eleições para decidir como posicionar a Argentina nas carteiras de investimento. Na manhã desta segunda-feira (27), o índice S&P Merval, que mede o desempenho da bolsa argentina, disparou.

Por volta das 12h, o indicador registrava uma valorização de quase 20%, atingindo 2.476 pontos. Já o risco-país, que mede a percepção de insegurança dos investidores, caiu de 1.000 para 600 pontos em apenas dois dias.

O dólar também recuou frente ao peso argentino, segundo dados do Banco Central. No mesmo horário, a moeda norte-americana era negociada a 1.420 pesos, uma queda de cerca de 7% em relação à última sexta-feira.

As principais ações beneficiadas no dia foram as de bancos, com altas expressivas nos Estados Unidos: Superville (+47%), BBA (+42%) e Galícia (+39%) figuraram entre os destaques.

O principal motivo da euforia é que agora Milei enfrenta menos resistência dentro do Congresso para aprovar suas reformas. Além disso, a vitória nas eleições era um dos requisitos impostos por Donald Trump para continuar apoiando o país.

"A magnitude da vitória de Milei está no final mais otimista das expectativas pré-eleitorais", disse Alejo Czerwonko, diretor de investimentos para mercados emergentes nas Américas do UBS Global Wealth Management. "Seu partido agora tem o capital político para acelerar as reformas estruturais."