Nepal em chamas: protestos derrubam premiê e deixam mais de 50 mortos

Geração Z lidera manifestações que começaram contra censura digital e terminaram em crise política sem precedentes.

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Publicado em 13/09/2025 às 09:00h - Atualizado 7 horas atrás Publicado em 13/09/2025 às 09:00h Atualizado 7 horas atrás por Wesley Santana
Milhares de pessoas foram feridas durante protestos; ministra da Suprema Corte assume governo (Imagem: Shutterstock)
Milhares de pessoas foram feridas durante protestos; ministra da Suprema Corte assume governo (Imagem: Shutterstock)

O Nepal, país asiático espremido entre China e Índia, enfrenta um dos maiores protestos de sua história. O movimento começou após a proibição do uso de redes sociais, mas rapidamente se transformou em uma revolta generalizada que já deixou mais de 50 mortos, mil feridos e levou à renúncia do primeiro-ministro Sharma Oli.

Os protestantes queimaram casas de políticos, vandalizaram prédios públicos e até incendiaram pessoas vivas. Uma dessas vítimas foi a esposa do premiê do país, Rajyalaxmi Chitrakar, que está em estado grave na UTI depois de ter seu corpo queimado. A situação crítica fez com que o líder nepalês Sharma Oil renunciasse ao cargo.

As manifestações são, no geral, orquestradas por jovens da geração Z, que engloba pessoas nascidas entre 1995 e 2010 e é nativa do ambiente digital. No entanto, este mesmo público diz que os protestos foram sequestrados por políticos que aproveitaram para causar destruições. 

No total, mais de 25 pessoas já foram presas pela polícia e dezenas de armas de fogo foram apreendidas. O exército tem endurecido o tom, impondo um toque de recolher rígido no país asiático.

Localizado na Ásia Central, o Nepal é um país com cerca de 30 milhões de habitantes. Ele abriga um dos pontos turísticos mais conhecidos do mundo, o Monte Evereste, considerada a montanha mais alta do mundo. 

A política é de orinetação de centro-esquerda, com um primeiro-ministro indicado pelo Partido Comunista. Com a renúncia de Oil e de outros membros do governo, não há nenhuma liderança no comando do país neste momento.

"Olhando para o futuro, acreditamos que a liderança do Nepal deva ser livre de vínculos com partidos políticos tradicionais, totalmente independentes e escolhidos com base em competência, integridade e qualificação", disseram os manifestantes da geração Z em comunicado.

PProtestos são liderados por jovens que não aceitaram a imposição de censura das redes sociais no país (Imagem: Shutterstock)

Como tudo começou?

A juventude altamente conectada se negou a seguir uma nova legislação do governo que previa restrigia o uso das redes sociais. No total, o governo proibiu dezenas de empresas de oferecerem seus serviços no Nepal, entre elas a Meta, controladora do WhatsApp e Instagram.

A proibição partiu da alegação de que o governo estaria sendo alvo de notícias falsas e para combater fraudes online. No entanto, o plano de fundo está ligado a uma série de denúncias de corrupção que ganharam repercussão no ambiente digital nos últimos meses. 

Esse foi o estopim para que os manifestantes saíssem às ruas em busca de mudanças. Os protestos foram organizados pelas redes sociais, e logo se escalaram em todo o país.

Além da luta anticorrupção, os manifestantes também pedem uma renovação política no país, com o objetivo de aumentar a qualidade de vida da população. Atualmente, o Nepal ocupa a posição de número 145 no ranking da ONU (Organização das Nações Unidas), com um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano( de 0,622, classificado como médio. 

Os protestos alcançaram seu objetivo principal que era depor o governo, mas saíram do controle. Houve muito saqueamento, mortes edepredação do patrimônio público, conforme relata a mídia local. 

Em um dos dias de maior intensidade, milhares de detentos conseguiram escapar do carcere. Ainda não se sabe a relação dos protestos com as fugas, mas os manifestantes falam em um sequestro das pautas por políticos. 

"Estamos no processo de controlar os indivíduos que estão aproveitando dessa situação para saquear, incendiar e causar outros incidentes", disse Rajaram Basnet, porta-voz do Exército nepalês. "Foi e continua sendo não-violento, baseado nos princípios do engajamento cívico pacífico", contestou um dos organizadores das manifestações. 

Suprema Corte no comando

Na noite desta sexta (12), a presidente da Suprema Corte do Nepal foi nomeada para assumir como líder interina do país. Aos 73 anos, Sushila Karki ganhou relevância no país por sua atuação na luta anticorrupção, mas não tem nenhuma experiência na área política. 

Em entrevista à afiliada da CNN no Nepal, a nova primeira-ministra destacou que vai estabeler um novo recomeço para o país. Ela deve prestar juramento nos próximos dias, assumindo as responsabilidades de .Sharma  

Os protestantes negociaram vários nomes para o cargo, mas Karki se destacou pela sua atuação precessora. Eles formaram consenso, portanto, de nomeá-la para o cargo mais importante do país. 

Ela agora terá o poder de comandar o país e convocar eleições para decidir quem será oficlamente o Chefe de Estado do Nepal. Segundo ela, o pleito deve ocorrer entre seis meses e um ano.