Fux vota para anular processo contra Bolsonaro, por "incompetência do STF"

Com o voto do ministro, destino do ex-presidente só deve ser conhecido na quinta-feira (11).

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Publicado em 10/09/2025 às 10:46h - Atualizado 1 hora atrás Publicado em 10/09/2025 às 10:46h Atualizado 1 hora atrás por Marina Barbosa
Luiz Fux é o 3º a votar no julgamento de Bolsonaro (Imagem: Gustavo Moreno/STF)
Luiz Fux é o 3º a votar no julgamento de Bolsonaro (Imagem: Gustavo Moreno/STF)

O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), votou nesta quarta-feira (10) para anular o processo que acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete de seus aliados de tentativa de golpe de Estado.

⚖️ Para Fux, os réus da ação penal não possuem foro por prerrogativa de função. Por isso, não deveriam ser julgados pelo STF. O ministro pediu, então, a "declaração de nulidade de todos os atos decisórios" do processo.

"Estamos diante de falta de foro absoluta", afirmou Fux, concluindo pela "incompetência absoluta do STF para julgamento desse processo".

Foro privilegiado

O foro por prerrogativa de função ou foro privilegiado garante que as autoridades políticas sejam julgadas em instâncias específicas do Poder Judiciário.

Desta forma, cabe ao STF julgar os processos relativos ao presidente da República, assim como ao vice-presidente, ministros, senadores e deputados federais.

Inicialmente, o foro era garantido no período de exercício dos cargos ou mandatos e apenas para os crimes praticados no cargo e em razão do cargo.

Em março deste ano, contudo, o STF decidiu manter o foro privilegiado mesmo após a saída desses cargos/mandatos, desde que os crimes tenham sido cometidos durante o exercício da função.

Fux argumentou, por sua vez, que os réus do processo que investiga a trama golpista "perderam os seus cargos muito antes do surgimento do atual entendimento".

A acusação

O processo em questão avalia se Bolsonaro e sete de seus aliados tentaram dar um golpe de Estado no Brasil em 2022. Além do ex-presidente, estão em julgamento:

  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, que está preso;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional);
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
  • Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência);
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) acusa Bolsonaro de ter liderado uma "organização criminosa" que agiu nesse sentido entre 2021 e 2023. O plano teria começado com ataques ao sistema eleitoral brasileiro e culminado nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília.

Para a acusação, Bolsonaro também teria conhecimento do plano Punhal Verde e Amarelo, que planejou o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Diante disso, a PGR pede a condenação de Bolsonaro por cinco crimes, cujas penas podem somar de 12 a 43 anos de prisão. Veja os crimes apontados pela PGR:

  • organização criminosa armada;
  • tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • golpe de Estado;
  • dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima;
  • deterioração de patrimônio tombado.

Os votos

Primeiros a votar no julgamento do processo, os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino seguiram o entendimento da PGR e votaram pela condenação de Bolsonaro nessa terça-feira (9).

Por outro lado, Luiz Fux descartou o crime de organização criminosa, alegando que "a existência de um plano criminoso não basta para a caracterização do crime de organização criminosa".

Terceiro a votar, o ministro ainda afirmou que não há provas conectando os réus aos atos de 8 de janeiro e disse que não era possível condenar um réu por crimes de dano ao patrimônio cometidos por terceiros.

O voto de Fux abre uma divergência no processo, deixando a decisão sobre o futuro de Bolsonaro para quinta-feira (11), quando o julgamento segue com os votos dos ministros Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

Fux, por outro lado, reconheceu a validade da delação premiada de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que vem sendo questionada pela defesa dos réus.

Veja aqui como votaram os ministros do STF no julgamento de Bolsonaro

O julgamento

O processo está sendo julgado pela Primeira Turma do STF, o que também foi questionado por Fux nesta quarta-feira (10). Para o ministro, em caso de foro privilegiado, os réus deveriam ser julgados pelo plenário da Suprema Corte.

"Ao rebaixar a competência originária do plenário para uma das duas Turmas, estaríamos silenciando as vozes de ministros que poderiam exteriorizar sua forma de pensar sobre os fatos a serem julgados", declarou Fux.

Levar o julgamento para o plenário do STF é um dos pedidos apresentados pela defesa de Bolsonaro ao longo do processo, por causa do entendimento de que o ex-presidente teria mais chances de ser absolvido pelo pleno.

Bolsonaro indicou dois ministros para o STF: André Mendonça e Kassio Nunes Marques. Os magistrados, no entanto, não compõem a Primeira Turma e, por isso, não votam no julgamento desta semana.