Depois de pequena pausa por Trump, mercados voltam a assustar Milei na Argentina

Após encontro com presidente dos EUA, mercado argentino teve breve trégua, mas tensões cambiais reacenderam e já afetam bancos digitais.

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Publicado em 04/10/2025 às 14:00h - Atualizado 10 dias atrás Publicado em 04/10/2025 às 14:00h Atualizado 10 dias atrás por Wesley Santana
Milei está em seu segundo ano à frente da segundo maior economia da América do Sul (Imagem: Shutterstock)
Milei está em seu segundo ano à frente da segundo maior economia da América do Sul (Imagem: Shutterstock)

Depois do duro golpe que sofreu nas eleições legislativas da Província de Buenos Aires, o presidente da Argentina, Javier Milei, passou por dias bastante difíceis. O dólar disparou, a bolsa chegou ao menor patamar dos últimos anos e o risco-país também retomou uma pontuação que parecia ter sido esquecida. 

Tudo mudou depois que ele foi a Nova Iorque, onde teve uma reunião com o presidente dos Estados Unidos, que prometeu uma ajuda econômica. O mercado se animou e todos os índices negativos voltaram a se recuperar no país vizinho.

Mas tudo isso foi momentâneo, já que os painéis vermelhos voltaram a assustar a Casa Rosada nesta semana. O dólar dos EUA, por exemplo, voltou a ser negociado bem perto do máximo da banda superior definida pelo Banco Central, aos 1.450 pesos, nesta sexta-feira (3).

O índice risco-país, que calcula a impressão do mercado sobre uma nação, retornou ao mesmo patamar de um mês atrás. O índice alcançou os 1.264 pontos, depois de operar abaixo dos 900 pontos. 

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O movimento acontece no contexto de uma tensão cambial na Argentina, com o temor de que o governo volte a controlar a compra de dólares. Depois de fazer uma liberação quase geral de compra e venda da moeda estrangeira, agora o Ministério da Economia voltou a colocar algumas brechas para essa negociação.

Uma decisão do governo restringiu, por exemplo, que carteiras digitais vendam dólares aos argentinos. Com isso, empresas como o Mercado Pago e Cocos Capital tiveram suas autorizações derrubadas, já que usavam a infraestrutura de terceiros para as operações.

"A compra e venda de dólares é regulamentada pelo Banco Central da República Argentina e só pode ser realizada por meio de entidades autorizadas. Isso significa que apenas bancos e casas de câmbio autorizadas podem canalizar operações de compra e venda de moeda estrangeira. Não é permitido terceirizar operações.", disse um porta-voz do Banco Central ao portal Infobae. 

A decisão representa um duro revés ao Mercado Pago, que se aproveitou da decisão anterior para fazer uma campanha massiva de venda de dólares. Desde o mês de julho, o aplicativo passou a oferecer essa opção aos consumidores, em um país onde parte da população já está totalmente dolarizada. 

O presidente do Banco Central saiu em defesa da decisão dizendo que, na verdade, não houve mudanças em termos regulatórios. Ele destacou que as pessoas continuam tendo acesso ao mercado de câmbio, mas por meio de bancos autorizados corrigindo uma interpretação errônea.

"Descobrimos que havia entidades não autorizadas que realizavam operações de câmbio com pessoas humanas, algo que apenas bancos e casas de câmbio podem operar. As carteiras e as corretoras estavam fazendo isso. Quando percebemos, analisamos os regulamentos e saímos para esclarecer que essa interpretação estava errada", disse Santiago Bausilia.

Mais problemas 

Todo o movimento no mercado acontece poucos dias antes de uma segunda eleição considerada importante para Milei, quando outras províncias da Argentina vão eleger seus senadores. Além de suspeitas de corrupção que envolvem membros do governo, agora um parlamentar próximo a ele está envolvido em um escândalo de ligação com o crime organizado. 

Em 2019, o deputado federal José Luís Espert, do mesmo partido de Milei, recebeu US$ 200 mil do empresário Alfredo Fred Machado. O pagador foi acusado pela Justiça dos EUA de ligação com o narcotráfico e chegou a ser alvo de um pedido de prisão internacional. 

O parlamentar publicou um vídeo confirmando que recebeu o valor, mas argumentou que teria sido o pagamento por um trabalho de assessoria para uma mineradora localizada na Guatemala. Ele ainda destacou que só soube que o Fred havia sido condenado em 2021, quando se interou do pedido de prisão.

“Eu entrei em pânico. Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer comigo na vida”, destacou ele. “[Ele] era procurado pela justiça dos EUA por atividades relacionadas ao tráfico de drogas e fraudar compradores e vendedores de aeronaves", continuou.